sábado, 16 de abril de 2011

001 - Primeira reunião de pré-produção. Muitas idéias, empolgação e chocolate amargo. Antes uma breve introdução.

por Rafael de Almeida

Então galera! É o primeiro texto e eu to meio verde ainda sobre por onde começar. Então vou falar antes da inspiração. Não a que originou o filme até por que quem tá escrevendo não é nosso querido diretor e roteirista Luciano mas o tímido aspirante a fotógrafo. Falo da inspiração para esse blog, para esse texto e para, assim espero, futuros textos, fotos e quem sabe vídeos. De cara, a idéia veio da boa vontade de Peter Jackson. Aquele mesmo que dirigiu uns filmes “pouco conhecidos” como a trilogia Senhor dos Anéis e King Kong. Pra quem não sabe, durante a produção desses filmes (que foram gigantescas), o Peter gravava vídeos quase didáticos sobre os estágios de produção de seus filmes. A partir desses vídeos, um monte de gente começou a ter uma idéia melhor de como se faz um filme grandão. Daqueles que custam uma fortuna, que são feitos durante meses infindáveis e que a gente fica babando pra saber como fizeram essa ou aquela cena. Enfim, isso que vocês tão lendo é um texto (rá rá rá) e não um vídeo. Mas acontece que a idéia bateu de repente e não gravei um vídeo de nossa primeira reunião de pré-produção. Então, por ora, vou fazer que nem o Fernando Meirelles fez durante a produção de Ensaio sobre a cegueira. Um blog de textos contando de forma mais irreverente os estágios da produção do nosso curtinha. Como falei, a idéia é "evoluir" (as aspas são aqui são por que o blog do Ensaio sobre a cegueira era excelente sem precisar de vídeo), então a gente vai tirando fotos e gravando vídeos quem sabe e vamos colocando por aqui, de forma cronológica, didática e acessível (e irreverente) para quem se interessa em como se dá o processo de realização de um curtinha mesmo (ainda não podemos ser tão luxuosos como o querido Peter Jackson não é?)

O curta no caso é F.O.M.E. Estamos realizando para uma disciplina chamada “cinema de horror” do curso de cinema da UFPE (mas que temos planos ainda maiores para ele além de uma nota) Não é o primeiro curta que fazemos já que estamos praticamente no meio do curso. Tivemos outras experiências (geralmente não satisfatórias), mas que serviram bastante como aprendizado. Pra que eu não me estenda demais e vocês acabem desistindo de ler essa parada, vou resumir essa parte. Entre as lições que aprendemos nas nossas experiências passadas, as principais são: trabalhar com pessoas de confiança, que não te colocam de lado e ouvem o que tu tem a dizer; não procrastinar e ficar sempre adiando as possíveis realizações e idéias que estão no papel e principalmente; ter paciência, trabalhar com calma e de forma organizada com uma equipe onde cada um, ainda que obviamente vá ajudar em outras partes, cumpra uma função específica. É melhor assim por que é mais organizado. Se cada um fica responsável por uma parte onde se encaixa melhor e gosta mais, a coisa anda, e o resultado é mais perto do previsto. Parece óbvio falar disso, mas acreditem, já estive (estivemos) em várias dessas pequeninas produções da faculdade, onde a gente ficava doido por que todo mundo tinha um pitaco diferente pra dá por que na verdade ninguém havia pensado em praticamente nada antes da filmagem propriamente dita e então, na hora H era só bagunça, cara feia, ego inchado ferido, desorganização, perca de tempo e filme tosco ao final. Enfim, organização, ao menos para nosso grupo, é peça chave. E é assim que se faz filme, através de um processo não a partir de um brainstorm de um bando de metido a autor. Processo. No mercado é assim... (até onde eu sei).

Voltando a F.O.M.E... Começando pelo comecinho mesmo, foi Luciano (o que para nós não é novidade) quem veio com essa idéia para o curta que deverá ser realizado daqui pro fim do semestre pra cadeira de cinema de horror. É sobre uma figura vampiresca que sai a noite em uma cidade assolada por um misterioso assassino conhecido como... Vampiro. As intenções dele não vou revelar (embora vocês já estejam imaginando) pois afinal, trata-se de um curta e para que o efeito que ele deverá causar funcione, não posso dizer mais do que isso.

Aí a Ju (que testou minha paciência hoje mas eu amo ela do mesmo jeito), nossa produtora marcou nossa primeira reunião de pré-produção na casa dela hoje. Pra quem não sabe, a pré é o primeiro estágio da feitura de um filme, onde a gente organiza tudo, tipo, tuuudo mesmo que vai ser necessário para os dias de filmagem. Tava lá também Bárbara, que vai ser a maquiadora, figurinista e diretora de arte junto com Kianny (que não pôde ir hoje). Daí a gente pegou o roteiro e storyboard de Luciano e discutimos sobre os vários aspectos em termos da concepção visual, intenção do filme e do que precisaríamos para as filmagens. Coloca ai na lista de coisas que falamos o som, os cenários, as roupas, as texturas e cores das roupas e cenários, qual câmera a gente poderá usar e quais lentes, como realizaremos tal movimento de câmera etc etc etc. Isso é um resumão mesmo por que muita coisa foi discutida. Não vou entrar em tantos detalhes por que poderemos escrever sobre cada “área” (vamos assim chamar) separadamente com mais detalhes. Mas aí vai o principal.

A Ju fez uma tabelinha no Excel (aquele programa do Office que quase ninguém usa) com o cronograma da produção. Tá aí pra vocês verem.


Não vou falar muito por que vocês já tão vendo. É uma tabelinha com todas as datas da pré a pós produção (estágio de finalização do filme) e a gente espera muito segui-lo. Acontece que como dependemos de muita pessoas não envolvidas na produção para conseguirmos um monte de coisas (coisinhas "básicas" quase "desnecessárias" como câmera por exemplo) para ser possível realizá-la então um monte de datas podem não ser cumpridas (já temos um exemplo: caiu um toró desgraçado no dia original de nossa primeira reunião então a adiamos). Mas ninguém vai poder dizer que a gente não se organizou. Organizem-se minha gente. Façam cronograma!

Então, Luciano levou várias referências para a concepção visual do filme. São artes que ele mesmo havia feito (inclusive a história em quadrinhos que baseou o curta). Ele também já havia nos mostrado desenhos de um artista chamado Dave Mckean. Esse é nosso ponto de partida. Vamos procurar um visual que vá na direção de nossas referências. Obviamente não vamos conseguir algo exatamente igual, primeiro por que não precisa ser exatamente igual e depois por que a nossa produção é praticamente zero budgeting então não temos dinheiro para elaborar demais. Vamos ter que usar o pouco que temos e muita criatividade e aí está parte da graça. Com essas referências a gente já pega uma noção de como deverá ser o clima, as texturas e paleta de cores algo extremamente útil para o pessoal da arte (nossas gatinhas Bárbara e Kianny) e também para mui, o fotógrafo.

Com o storyboard (uma página dele está logo abaixo), já dá pra gente mais uma visualizada em como ficará o filme todo. Não vai dá pra seguir a risca primeiro por que mais uma vez, não é preciso. O storyboard é só um guia, não um ditador. Luciano o desenhou sem que soubéssemos ainda onde serão as locações que gravaremos então muita coisa poderá ser modificada. Mas é sempre legal ter para sentirmos do diretor como ele está pensando o filme. Se ele vai preferir, por exemplo, planos mais abertos ou mais fechados. Isso obviamente interfere no trabalho da direção de arte e falando de minha parte, também no trabalho do fotógrafo. Gosto do storyboard por que já vou pensando na composição do enquadramento e até mesmo em uso criativo de lentes (eu solicitei uma 50mm e espero que consigamos uma).


O som do nosso filme deverá todo ser feito só na pós-produção por que ele não vai envolver diálogos (o que no nosso caso damos graças) então pra quem curte som, e gostar dos nossos textos, vai ter que esperar um bocadinho para ler sobre.

Ao final da tarde, com tudo passado e repassado, ficamos com uma tarefinha de casa. Cada “departamento” deverá fazer sua própria decupagem do roteiro. Eu, fotógrafo, deverei observar onde precisarei de luz artificial, se usarei filtros ou gelatinas para dá unidade no visual, quais lentes usar em tal cena, se vai precisar de grua, travelling (que nosso caso vamos improvisar) etc. O diretor vai perceber como a câmera deverá se comportar para passar tal idéia (e eu ajudo ele aqui naturalmente) e prestar atenção na questão do eixo e tal. O pessoal da arte vai enumerar os objetos de cenas e o a produtora vai à cata de tudo que a gente precisar (claro que ela não vai tá só nessa, “nóis” vai ajudar hehe). Ao fim da tarde, a Ju compensou o ódio no coração dela (bejinho Ju haha) com uma barra de chocolate amargo que ela ofereceu e que nós detonamos satisfeitos.

Acho que por ora é isso. Espero que tenham curtido e desculpem se ficou grande, mas é por que deveríamos ter começado isso antes da reunião. Aqueles que ainda desconhecem muitos termos e estágios não se assustem. Deixaremos mais claro mais tarde e vocês vão entender tudo direitinho. Esperamos que ao final, isso lhes sirvam de inspiração para a realização de um curta quem sabe. Hoje em dia com o barateamento de equipamentos, fazer um filme com o mínimo de qualidade não é tão difícil (embora seja muito mais difícil do que muuuita gente imagina que seja). É isso. Fiquem atentos ao blog. Será difícil manter uma regularidade por que pode ser que estejamos tão ocupados com a própria produção e com a faculdade que ficaremos impedidos de postar durante algum tempo. Mas acompanhem. Abraço.